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Gabão : Presidente deposto em prisão domiciliária

Ali Bongo, Presidente deposto do Gabão
Ali Bongo, Presidente deposto do Gabão Imagens: Angop

Redacção

Publicado às 14h17 30/08/2023 - Actualizado às 14h17 30/08/2023

Libreville – Os militares que levaram a cabo um golpe de Estado no Gabão e anunciaram esta quarta-feira a dissolução das instituições democráticas, revelaram que o presidente recentemente eleito está detido em prisão domiciliária.

O anúncio foi feito na televisão nacional do país, a Gabon 24, no qual as forças armadas declararam que as últimas eleições, realizadas no sábado, foram canceladas, após alertas por parte das autoridades nacionais e internacionais sobre fraude eleitoral no país.

"O presidente Ali Bongo está em prisão domiciliária, rodeado pela sua família e médicos", declarou o militar que leu o comunicado, explicando que o líder do país, eleito em 2009, foi preso com um dos seus filhos por "traição".

Depois de constatar "uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos (...) decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor", declarou um dos soldados.

Alegando falar em nome de um Comité de Transição e Restauração Institucional, disse que todas as fronteiras do Gabão estavam "encerradas até nova ordem".

De acordo com jornalistas da agência de notícias France-Presse, durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas em Libreville.

Horas antes, a meio da noite, às 03:30 (mesma hora em Angola), o Centro Eleitoral do Gabão tinha divulgado na televisão estatal, sem qualquer anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais.

A comissão eleitoral disse que o presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, que obteve 30,77% dos votos.

O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições.


Ali Bongo alvo da segunda tentativa de golpe

Ali Bongo Ondimba foi alvo nos últimos anos de várias lutas para manter o poder herdado do pai, incluindo uma tentativa de golpe de Estado, que agora se repete e ameaça derrubar a dinastia que governa o Gabão há 55 anos.

Em 14 anos no poder, o Presidente, eleito em 2009 após a morte do seu pai - o inamovível Omar Bongo - revelou-se nos últimos anos um caçador de "traidores" e "aproveitadores" no topo do Estado, revertendo paulatinamente a percepção instalada entre a população de que os dias da dinastia Bongo tinham chegado ao fim com o derrame cerebral que o vitimou em 2018.

A convalescença e reabilitação intensa de Ali Bongo prolongaram-se na altura durante 10 meses, período em que esteve desaparecido no estrangeiro, e o seu reaparecimento foi visto como um milagre, ainda que a ausência tenha feito vacilar o seu poder.

Desde então, os seus opositores têm questionado regularmente a sua capacidade intelectual e física para liderar o país, havendo mesmo quem afirme que um sósia o está a substituir.

Não obstante, se uma rigidez na perna e no braço direitos o impede de se deslocar facilmente, a sua cabeça continua intacta, segundo os visitantes habituais, diplomatas e outros.

Durante o primeiro mandato, Ali Bongo foi a antítese do seu pai: sem o carisma e a desenvoltura do "patriarca" - que reinou sem contestação durante 41 anos o pequeno Estado petrolífero muito rico da África Central -, teve dificuldade em afirmar a sua autoridade, nomeadamente perante os membros inquietos do todo-poderoso Partido Democrático Gabonês (PDG).

A sua reeleição em 2016, já muito contestada pela oposição e oficialmente ganha por apenas 5.500 votos, foi para Ali Bongo um primeiro abanão, seguido de um segundo - o AVC -, que precipitou a sua transformação.

Ali Bongo transformou-se também num estratega político, tal como o pai, somando vitórias no seu campo assim como no de uma oposição desunida, a quem retirou pastas ministeriais e títulos de relevo.

Hoje, os seus apoiantes veem-no como uma fénix renascida das cinzas, depois de dolorosas sessões de reeducação. Já os seus críticos, acusam-no de ser movido pelos interesses de um séquito próximo, que não quer largar o poder e os ganhos obtidos em 55 anos de "dinastia Bongo".

 

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