Rwanda anuncia saída do bloco de países da África Central


Kigali -- O Rwanda anunciou a sua saída da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), bloco que reúne 11 países, ao denunciar a "instrumentalização" da organização por parte da República Democrática do Congo (RDC).
A decisão, segundo a imprensa internacional, foi tomada no âmbito da 26.ª cimeira ordinária realizada sábado na Guiné Equatorial.
No comunicado divulgado às primeiras horas de domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros rwandês afirmou que a "instrumentalização" da CEEAC pela RDC, "com o apoio de certos Estados-membros", viola os direitos do Rwanda "garantidos pelos textos constitutivos" da organização.
"Consequentemente, o Rwanda não vê qualquer justificação para permanecer numa organização cujo funcionamento actual contraria os seus princípios fundacionais e o seu objectivo original", sublinharam as autoridades de Kigali.
O anúncio foi feito após a reunião dos chefes de Estado e de Governo da África Central em Malabo, onde os líderes regionais procuraram definir as principais orientações políticas, de segurança e de cooperação marítima para a região.
De acordo com a denúncia de Kigali, a CEEAC "ignorou deliberadamente" o direito do Rwanda a assumir a presidência rotativa do organismo, "com o objectivo de impor a vontade da RDC".
Kigali e Kinshasa mantêm há semanas negociações com vista a alcançar uma solução pacífica para o conflito no leste da RDC, onde o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), apoiado pelo Rwanda, intensificou a ofensiva no início deste ano, tendo tomado as capitais das províncias do Kivu Norte e da vizinha Kivu Sul.
As perspectivas de uma saída negociada para o conflito foram reavivadas a 25 de Abril, quando Rwanda e a RDC assinaram em Washington, com a mediação dos Estados Unidos, um acordo para o início de negociações de paz.
Além disso, o Governo congolês e o M23 retomaram no início de Maio o diálogo em Doha, sob a mediação do Qatar.
A actividade armada do M23 - grupo composto maioritariamente por tutsis, comunidade que foi alvo do genocídio rwandês de 1994 - foi retomada no Kivu Norte em Novembro de 2021, com ataques relâmpago contra o exército congolês.
O leste da RDC está mergulhado, desde 1998, num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelas forças armadas, apesar da presença da missão de paz das Nações Unidas (Monusco).