Senegal preside à CEDEAO de 2026 a 2030
Dakar - Após não ter conseguido a presidência da Conferência de Chefes de Estado há alguns meses, Dakar conquistou o cargo máximo na Comissão da CEDEAO para o período de 2026-2030, reporta o diário Le Quotidien.
No encerramento da 68ª Sessão Ordinária da Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), segunda-feira, em Abuja, o Senegal foi nomeado para a presidência altamente estratégica da Comissão da organização para o período de 2026-2030.
Este anúncio, formalizado pelo Ministério da Integração Africana, Relações Exteriores e Senegaleses no Exterior, é considerado um grande sucesso diplomático e marca um feito histórico para o país à frente do órgão executivo da instituição.
A atribuição deste cargo-chave, tradicionalmente sujeito a intensas negociações e ao princípio da rotação geográfica, é saudada como um reconhecimento retumbante do papel do Senegal e do seu compromisso com a integração regional.
Para o governo liderado por Bassirou Diomaye Faye, esta nomeação chega num momento particularmente oportuno. Após um período turbulento de transição política e relações inicialmente tensas com alguns parceiros regionais e internacionais, o Senegal se posicionou no centro da União Europeia.
A presidência da Comissão confere a Dakar influência directa e estratégica sobre as políticas da organização (economia, segurança, governança). As autoridades senegalesas interpretam essa escolha como uma validação da credibilidade do país e da liderança do presidente Faye, cuja “visão esclarecida” e “direcção estratégica” foram decisivas, segundo o comunicado oficial.
Atenuação das Tensões Internas:
Este sucesso diplomático poderá servir para desviar a atenção das persistentes dificuldades internas (uma crise sindical no sector da saúde, tensões políticas nos mais altos escalões do governo), oferecendo ao regime uma vitória consensual no cenário internacional.
O futuro presidente senegalês da Comissão sucederá o Omar Alieu Touray e terá de enfrentar desafios monumentais que ameaçam a própria existência da comunidade: a crise no Sahel.
A saída de Estados liderados por juntas militares (Níger, Mali, Burkina Faso) exige uma revisão fundamental das estratégias de segurança e da diplomacia de crise para manter a unidade e a relevância da organização face ao retrocesso democrático com o ressurgimento de golpes de Estado na África Ocidental.
A Comissão terá de redefinir a sua doutrina para abordar os desafios da governação e da estabilidade institucional, uma vez que o modelo democrático da África Ocidental se encontra numa encruzilhada. A revitalização dos projetos de integração e a harmonização das políticas económicas, particularmente em resposta aos choques inflacionários e às expectativas públicas, serão centrais na agenda.
Ao assumir este prestigiado cargo para o mandato de 2026-2030, o Senegal recebeu uma missão de suma importância para o futuro da sub-região.
O Presidente Faye expressou a sua gratidão, reafirmando o compromisso do seu país em trabalhar por uma “CEDEAO mais forte e integrada, totalmente focada na paz, na estabilidade e no bem-estar do nosso povo”.
Este sucesso diplomático recoloca o Senegal no centro da África Ocidental, mas também impõe uma grande responsabilidade pela reconciliação e pela reforma institucional.
Por seu turno, outro diário, o Le Soleil, considera que ao dar esse passo, os Estados-membros fizeram uma escolha tanto política quanto simbólica, marcando, pela primeira vez, a ascensão do Senegal à presidência do órgão executivo da comunidade.
Esta nomeação, longe de ser uma mera formalidade, é o culminar de um processo de consultas aprofundadas e negociações delicadas, conduzidas num contexto regional marcado por profundas incertezas. Surge num momento em que a CEDEAO enfrenta desafios sem precedentes em matéria de segurança, política, instituições e economia, exigindo uma liderança lúcida, unificadora e resoluta.
A escolha do Senegal constitui um reconhecimento explícito do papel estruturante que o país desempenha na região da África Ocidental. Reflecte também a renovada estima e confiança que os Estados-membros depositam num país cuja diplomacia sempre esteve empenhada em promover a integração regional, a resolução pacífica de conflitos e o fortalecimento das instituições comunitárias.
Nesse sentido, o homem ou a mulher que o Chefe de Estado proposer aos seus pares em Junho de 2026 será incumbido(a) de uma missão de importância eminentemente estratégica: promover uma transformação qualitativa deste importante instrumento comunitário.