Reflexões sobre o XVI congresso da APLOP


A cidade do Lobito, em Benguela, foi recentemente o epicentro de um dos encontros mais relevantes do espaço lusófono, o XVI Congresso da Associação dos Portos de Língua Portuguesa (APLOP).
O evento reuniu gestores de topo, autoridades portuárias e players estratégicos do sector marítimo e logístico, num momento de viragem para a cooperação económica e comercial entre os países de língua portuguesa.
Com o Corredor do Lobito a emergir como uma das mais promissoras infra-estruturas logísticas do continente africano que vai ligar o Atlântico ao interior da África Austral, o congresso assumiu contornos que ultrapassaram a mera discussão técnica. Tornou-se uma plataforma de diplomacia económica, onde a língua portuguesa revelou-se uma poderosa variável de integração e competitividade global.
Hoje o Corredor do Lobito representa um novo paradigma de conectividade entre Angola, a República Democrática do Congo e a Zâmbia. Com o reforço das infra-estruturas ferroviárias e portuárias, esta rota transforma-se num corredor de exportação eficiente para minerais, produtos agrícolas e bens industriais, colocando Angola no centro da logística africana.
Durante o congresso, ficou patente que os portos lusófonos, quando articulados através de estratégias comuns e partilha de conhecimento técnico, podem gerar sinergias sustentáveis e fortalecer a presença económica do espaço da CPLP no comércio marítimo internacional.
Mais do que um idioma partilhado, a língua portuguesa é um activo económico e cultural que facilita o diálogo entre portos, governos e operadores privados. No contexto global, em que a comunicação é um factor crítico de eficiência e confiança, a uniformidade linguística entre os membros da APLOP é um instrumento de redução de barreiras comerciais e aceleração de processos de integração logística.
A linguagem comum permite partilhar normas técnicas, padrões de gestão portuária e práticas sustentáveis sem a fricção habitual das diferenças linguísticas. Este factor torna-se essencial num mundo onde a rapidez da informação é decisiva para o sucesso empresarial e a segurança das operações marítimas.
A aproximação linguística deve ser entendida não apenas como herança cultural, mas como mecanismo de sustentabilidade económica. A língua portuguesa cria um ecossistema de confiança entre parceiros comerciais, incentiva a formação técnica conjunta e promove a circulação de investimentos no espaço lusófono.
A sustentabilidade, no mundo dos negócios, não depende apenas de políticas ambientais, mas também de infra-estruturas de comunicação eficazes, relações humanas sólidas e visões partilhadas. E é neste ponto que a língua portuguesa se afirma como um capital imaterial com valor económico directo.
O XVI Congresso da APLOP no Lobito reafirmou que os portos de língua portuguesa não são apenas portas marítimas, mas portas de entendimento e progresso comum. Num tempo em que a globalização exige redes integradas e alianças estratégicas, o espaço lusófono, ancorado na língua e na cooperação, tem condições únicas para afirmar-se como um corredor de oportunidades, inovação e sustentabilidade.
O desafio, daqui para frente, será transformar a afinidade linguística em resultados tangíveis, em comércio mais ágil, formação mais sólida e desenvolvimento económico partilhado.
No Lobito, não se falou apenas de portos, falou-se em português de um futuro sustentável com base na economia azul de maior proximidade.