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Defendida utilização da arte Sona no sistema de ensino

Sona: Escrita na areia
Sona: Escrita na areia Imagens: Rede Girassol

Redacção

Publicado às 12h51 10/04/2025

Luanda - A artista plástica Carla Peairo defendeu a necessidade de se utilizar a arte milenar Sona de desenhos e figuras geométricas na areia do povo Lunda Cokwe, no sistema de ensino em Angola.

Ao intervir na conferência sobre “Sona - herança patrimonial endógena, passado, presente e perspectivas do futuro”, esta terça-feira, no Palácio de Ferro, em Luanda, defendeu que a arte pode servir para incitar a expressão oral, criatividade, imaginação, desenvolvimento da memória, concentração, acuidade visual, agilidade manual e transmissão de valores morais aos estudantes.

Sublinhou que o facto de ser uma prática de grupo pode ajudar no desenvolvimento de relações inter-pessoais saudáveis entre os jovens, enfatizando que “é uma prática que se faz em grupo, que pode servir de jogos ou outro tipo de animação, por ser também uma arte performativa, e que muito pode contribuir para o crescimento da sociedade angolana”.

Carla Peairo disse ser o momento ideal de se aproveitar a rica herança cultural do país para o desenvolvimento de vários sectores, sobretudo o da educação, escreve o JA Online.

Revelou que tem aplicado os Sona nas suas aulas e obtido excelentes resultados, "por serem aulas que despertam a atenção dos estudantes, diferente da clássica, cuja maioria não se identifica”.

No âmbito da sua formação de animadora em ateliers de expressão e criatividade, adiantou que se sentiu motivada em estudar a hipótese de aplicação e exploração dos desenhos na areia como meio de ensino e fazer do mesmo tema de uma pesquisa que desenvolve actualmente.

A conferência “Sona - herança patrimonial endógena, passado, presente e perspectivas do futuro” é a primeira de um ciclo enquadrado na exposição “Sona: Traços de uma herança”, das artistas Carla Peairo e Ermelinda Zau, inaugurada a 27 de Março último, no Palácio de Ferro.

Estiveram presentes, entre outros, a artista plástica Ermelinda Zau e a directora do Instituto Nacional do Património Cultural (INPC), Cecília Gourgel.

Ermelinda Zau esclareceu, durante a conferência, que a sua relação com os Sona surgiu em 1995, aquando de uma formação na área da pintura de porcelana e azulejaria, na Associação dos Artesãos de Lisboa, onde aprendeu várias técnicas, entre as quais a do “canetado” que serve para fazer o contorno de um desenho ou paisagem.

Durante a formação, recordou, foi-lhe oferecido o livro de Mário Fontinha “Desenhos na Areia dos Quiocos do Nordeste de Angola”, onde encontrou os desenhos aplicados em peças utilitárias do quotidiano ou decorativas, pelos quais se rendeu e se apaixonou "de tal forma que nunca mais os larguei”.

Ermelinda Zau salientou o facto dos Sona terem sido elevados a Património Cultural Imaterial da Humanidade, referindo que os desenhos contam histórias vividas por um povo que, em momentos de lazer, se reunia à volta de fogueiras ou debaixo de árvores para abordar problemas, anseios do quotidiano e ilustrar com os desenhos ideográficos feitos na areia.

Os desenhos, esclareceu, traduziam lendas, jogos, adivinhas, mitos e animais que faziam parte do seu quotidiano na expectativa de passagem para as gerações vindouras.

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