LITERATURA
Livro "Obra Reunida" de António Jacinto lançado em Portugal

06/04/2025 11h16
Lisboa - O livro "Obra Reunida - António Jacinto" foi lançado, esta sexta-feira, na Biblioteca Nacional de Portugal, em cerimónia assistida pela embaixadora de Angola em Portugal, Maria de Jesus Ferreira.
Segundo se soube, o livro, que reúne em cerca de 600 páginas textos, poemas e depoimentos, entre outros de António Jacinto, resulta de uma pesquisa desenvolvida por escritor angolano Zetho Gonçalves, durante cerca de três anos e meio.
Durante a cerimónia de lançamento do livro, presidida pelo director da Biblioteca Nacional de Portugal, Ramada Curto, realizou-se uma conferência sobre António Jacinto, com intervenções dos escritores e pesquisadores Ana Paula Tavares, Francisco Soares, Francisco Topa e José Pires Laranjeira e os testemunhos de Sofia Martins, Manuel Martins e Jacinto Rodrigues.
A embaixadora Maria de Jesus Ferreira referiu que “António Jacinto foi uma figura central na luta pela Independência de Angola", adiantando que "como intelectual, usou a sua voz literária para criticar o colonialismo e mobilizar a resistência".
Recordou que, devido ao seu activismo, foi preso pela PIDE, em 1961, "onde continuou a escrever clandestinamente, simbolizando desse modo a resiliência contra a opressão e revelando o seu forte fervor independentista”.
Sublinhou que a poesia de António Jacinto aborda temas de exploração, identidade e libertação, citando, a título de exemplo, o poema ‘Carta dum Contratado’ que expõe as condições brutais do trabalho forçado, enquanto o ‘Poema da Alienação’ revela o impacto psicológico do colonialismo.
O livro reúne a obra dispersa do poeta angolano, António Jacinto, numa iniciativa do escritor Zetho Gonçalves, tendo o seu lançamento sido enquadrado num colóquio sobre “António Jacinto: poeta e guerrilheiro”, organizado pela Biblioteca Nacional Portuguesa.
“Obra Reunida - António Jacinto” com a chancela da editora Maldoror, tem, na sua primeira parte, todas as obras publicadas por António Jacinto mais cinco contos infantis que o mesmo escreveu para o seu filho, que tinha três meses quando foi preso, em 1962, revela o autor da obra, ao jornal Público.
António Jacinto só voltou a ver o filho, em 1972, quando foi libertado e mantido em residência fixa, em Lisboa, recorda Zetho Gonçalves.
Uma outra parte do livro reúne 22 poemas dispersos, alguns dos quais inéditos, e textos que António Jacinto escreveu sobre a política, assim como prefácios de livros de outros autores, também por si escritos.
O livro tem também uma secção de entrevistas e uma parte que condensa correspondência de António Jacinto para os nacionalistas angolanos Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade, e para o escritor brasileiro Salim Miguel.
O volume inclui ainda depoimentos do filho e sobrinhos, de um primo, assim como de Irene Guerra Marques, além do facsimile de todo o seu processo elaborado pela PIDE, adiantou Zetho Cunha Gonçalves.
O lançamento da obra coincidiu com o Dia da Paz e da Reconciliação em Angola, assinalado a 04 do corrente mês.
António Jacinto nasceu em Angola, a 28 de setembro de 1924, e faleceu, em Lisboa, a 23 de junho de 1991.
Poeta e cronista da "Geração Mensagem", foi preso por questões políticas e enviado para a prisão do Tarrafal, em Cabo Verde.
Libertado, acabou por fugir de Portugal para se juntar à guerrilha do MPLA, e, após a proclamação da independência, a 11 de Novembro de 1975, desempenhou, entre outros, os cargos de ministro da Educação e da Cultura.
António Jacinto é co-fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA).