Escritora angolana defende importância da literatura para memória do país


Luanda - A escritora Cíntia Gonçalves defendeu, na quarta-feira, em Luanda, que a literatura angolana é essencialmente uma arte de compor cartas geográficas da História do país.
"Através dela é possível compilar os principais episódios do país, desde o período pré-colonial e o da luta pela Independência", sublinhou.
A escritora, segundo o JA Online, intervinha durante o seminário ”A Memória da Independência através da Literatura”, no âmbito da segunda edição do festival” O Futuro já Era”, tendo acrescentado que através da memória, a literatura consegue fazer um mapeamento do que se passou no solo angolano, destacando que, às vezes, a memória se torna uma resistência, onde o autor pode ir contra a narrativa única.
”Quando falamos da História de Angola, infelizmente os conteúdos que se produzem são sobre a chegada dos portugueses ao país, porém conseguimos encontrar alguns romances angolanos que narram uma versão diferente sobre a época colonial”, afirmou.
Embora a literatura seja essencialmente ficção, ressaltou, igualmente, a ensaísta, ela tem estipuladores de valor histórico muito grandes e com uma conservação da memória muito presente.
“Um outro dado que me faz pensar na palavra resistência, visto que nós temos um viés único, uma narrativa única como os portugueses, geralmente”, frisou.
Falar de resistência porque é onde nós, como povo que foi colonizado, conseguimos encontrar e ser o nosso poder de narrativa do outro lado, a narrativa da vítima e não apenas depender do colonizador que durante muito tempo é o que incorporou nas nossas.
Para além de reconhecer que há poucos escritores da sua época que escrevem sobre a época colonial, a escritora contou, que alguns autores têm ajudado na reconstrução da memória da independência, apesar de não terem vivido.
Quanto ao hábito de leitura, Cíntia Gonçalves, que começou a ler desde muito cedo, disse que os jovens estão cada vez mais afastados do livro e do conhecimento.
O escritor e professor, José Luís Mendonça, que também fez parte do painel, explicou que toda literatura de qualquer país preserva o conhecimento, porque reflecte toda vivência de um povo.
O jornalista, que abordou como a literatura tem contribuído para preservar, questionar e reinventar as memórias da independência, teve como suporte na sua abordagem os livros “Diz-me Coisas Amargas como os Frutos”, de Paula Tavares, “Maio, Mês de Maria”, de Boaventura Cardoso,”Cuéle, o Pássaro Troçador” de Jorge Arrimar.
“Hoje, cinquenta anos depois da independência, assiste-se às sequelas de todas as guerras combatidas, vividas e sofridas pelos povos, a nação demora a concretizar-se, não haver nação sem diálogo entre as populações que habitam no mesmo espaço”, referiu.