Economia

Economia


PUBLICIDADE

Angola é um dos principais destinos da roupa usada exportada pela China

Roupas usadas
Roupas usadas Imagens: DR

Redacção

Publicado às 12h20 12/08/2024 - Actualizado às 12h20 12/08/2024

Luanda – Angola, o Quénia e o Ghana estão entre os principais destinos da roupa usada exportada pela China, segundo um relatório das Nações Unidas que estima que este segmento represente um volume de negócios superior a nove mil milhões de dólares.

Em 2021, salienta o relatório da Comissão Económica das Nações Unidas, datado de Junho último, África foi o principal destino da China para roupas em segunda mão, particularmente Angola, Ghana e Quénia.

As peças de vestuário são originárias normalmente dos países mais ricos para os mais pobres, sendo os principais exportadores a União Europeia (30 por cento), a China (16) e os Estados Unidos (15), enquanto a Ásia, predominantemente o Paquistão, representou 28 por cento das compras, seguida de África, com 19 por cento (sobretudo Ghana e Quénia) e a América Latina, com 16 (os principais o Chile e a Guatemala).

No relatório, intitulado “Mudando a direcção na crise do vestuário usado: Perspectivas mundiais, europeias e chilenas”, salienta-se que o modelo de produção na indústria têxtil deixou de ser baseado nas fibras naturais e em políticas proteccionistas para um modelo em que as fibras sintéticas se tornaram omnipresentes, a produção foi deslocalizada e a velocidade de fabrico e distribuição dos produtos acelerou rapidamente.

Este modelo de "fast-fashion" (moda rápida) que envolve mais colecções por ano, geralmente a preços baixos, e usadas durante cada vez menos tempo levou a uma sobre-produção e sobre-consumo de roupas, que estimularam o desenvolvimento do mercado de vestuário em segunda mão, com transacções avaliadas em 9,3 mil milhões de dólares, em 2021.

Os volumes de roupas descartadas aumentaram quase sete vezes nas últimas três décadas, segundo o relatório da Comissão da ONU, divulgado pela agência Lusa, que refere também que o aumento da produção de vestuário foi acompanhado de uma redução na qualidade.

Grande parte do vestuário é fabricado a partir de fibras sintéticas misturadas difíceis de separar, reduzindo as possibilidades de reutilização económica e a sua reciclagem, particularmente nos países desenvolvidos, salienta.

As exportações de vestuário em segunda mão da União Europeia para mais de 100 países, principalmente na Ásia e em África, ultrapassaram 1,8 milhões de toneladas com um valor de 1,66 mil milhões de dólares, em 2021.

Variação cambial e taxas de importação complicam negócio da roupa usada em Angola 

Entretanto, o negócio da venda de roupa usada (conhecida como fardo) em Angola tem vindo a baixar, devido ao aumento das taxas de importação e a falta de divisas, segundo alguns operadores abordados pela Lusa.

Na província de Luanda, não é difícil encontrar nas ruas pessoas sentadas em passeios com as roupas expostas no chão ou nas paredes, havendo também quem opte por venda ambulante, incluindo sapatos com preços mais módicos.

A oferta vai aumentando na periferia, do vestuário para adultos e crianças, incluindo roupa íntima, até meias, sapatos, malas para senhoras, mochilas para crianças, cintos, artigos para o lar, como roupas de cama e de banho, almofadas, cortinas, loiças, bijuterias, quadros, brinquedos, vestidos de festa e de noiva, entre muitos outros produtos.

A venda de “fardos” está cada vez mais sofisticada, e além das ruas e praças, a sua comercialização é feita também através das redes sociais, com a possibilidade de entrega ao domicílio, geralmente publicitada por influenciadoras digitais.

Este negócio, existente há vários anos em Angola, é sobretudo dominado por cidadãos estrangeiros, que importam as mercadorias da Europa, América e Ásia. 

Segundo os operadores, nos últimos dois anos, o negócio “vai mal” e, sobre os lucros e valores arrecadados com o negócio, preferem não avançar números, mas reconhecem que “tudo mudou” e os preços aumentaram, devido à variação cambial, pelo que há agora mais dificuldades para revender os produtos.

Um dos operadores abordados revelou que anteriormente todas as semanas descarregavam contentores com 500 a 600 “balões de fardo” (pacotes de roupa usada para revenda), provenientes do Dubai, mas agora chega a ficar quatro meses “sem novidades”.

Por seu lado, as revendedoras disseram que diminuiu muito a oferta, porque muitos empresários encerraram os seus armazéns e foram embora por dificuldades económicas. “A maioria dos armazéns estão fechados, porque o negócio já não rende”, remataram. 

Adiantaram que têm preferência pelo “fardo” da Turquia, porque o da China os seus clientes não compram, por serem tamanhos pequenos, que dificilmente servem aos angolanos.

Um dos gerentes de armazém disse a Lusa que há quase sete meses não recebem mercadorias e estão apenas a despachar o que têm em stock, porque a importação está difícil, devido ao aumento das taxas e à crise de divisas.

PUBLICIDADE