Vera Daves defende que a China deve intensificar financiamento a Angola
Luanda - A ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, afirmou, esta terça-feira, que a China precisa intensificar o seu financiamento para que Angola possa absorver mais produtos fabricados seus, desde painéis solares a carros eléctricos.
Numa entrevista à agência Reuters, na véspera do nono Fórum de Cooperação China-África, a decorrer em Beijing até sábado próximo, Vera Daves de Sousa disse que Angola está a procura de formas de reforçar as suas finanças e segurança alimentar, fazer crescer o seu sector das pescas e atrair mais investimento gerador de empregos.
O Governo chinês aprovou empréstimos no valor de 4,61 mil milhões de dólares para a África, no ano passado, o primeiro aumento anual desde o pico de 28,4 mil milhões de dólares, em 2016, quando 68 por cento dos empréstimos foram destinados apenas a Angola.
Este aumento aconteceu apesar de Beijing restringir os investimentos e afastar-se de projectos de infra-estruturas de grande valor, enquanto a África, rica em recursos naturais, luta com uma crise de dívida crescente e procura soluções de financiamento mais rápidas.
No Fórum China-África devem participar cerca de 50 chefes de Estado e de Governo africanos, sendo que o ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António, vai reprfesentar o Presidente João Lourenço.
No total, Angola deve à China cerca de 17 mil milhões de dólares, e depois de uma moratória ter terminado, os seus pagamentos mensais tinham aumentado grandemente, forçando o governo angolano a ter que pedir uma modificação dos termos da dívida.
A China manifestou vontade de ajudar Angola a modernizar o seu sector agrícola, a fazer crescer as suas indústrias e a diversificar a sua economia, em troca de importações de mais produtos chineses, mas enfrenta a concorrência do Ocidente.
“Esta é uma discussão difícil, porque no nosso caso é acompanhada pela solução de financiamento”, disse Vera Daves, tendo acrescentado que "se as receitas fiscais de Angola fossem suficientemente fortes para nos permitir escolher, com base nos critérios de qualidade e preço, teríamos uma discussão totalmente diferente”.
Para a ministra das Finanças, a proposta da China não só precisa de incluir mais financiamento para ajudar Angola a reduzir a inflação elevada e a aumentar o emprego no curto prazo, mas também garantir que tenha indústrias robustas das quais dependa no futuro.
Caso contrário, a China poderá perder para a concorrência da Europa, que, segundo Vera Daves de Sousa, exige que Angola compre os seus produtos, mas tem canalizado novos financiamentos mais prontamente em troca.
“Vamos comprar mais painéis solares da Europa, porque o financiamento vem de lá”, garantiu Vera Daves.
Os EUA e a Europa afirmam que a economia chinesa, de 19 mil milhões de dólares, tem excesso de capacidade nos veículos eléctricos e nos painéis solares.
Ante a iminência de restrições ocidentais às exportações chinesas, encontrar compradores para estes produtos está no topo da agenda do nono Fórum sobre Cooperação China-África.
A ministra das Finanças defende que o seu país não procura de mais empréstimos e prefere "encontrar um novo paradigma onde façamos mais com base no envolvimento do sector privado e através de parcerias público-privadas".
"Precisamos de pensar fora da caixa, porque a solução simples de 'dá-me dinheiro, eu dou-lhe a garantia' acabou", concluiu Vera Daves.