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Defendida nova ordem financeira para contrapor crise da dívida em África

Embaixador Francisco da Cruz (dir.) na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento
Embaixador Francisco da Cruz (dir.) na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Imagens: Edições Novembro

Redacção

Publicado às 11h12 03/07/2025

Luanda - O representante permanente de Angola junto das Nações Unidas, Francisco da Cruz, reafirmou, esta quarta-feira, em Sevilha (Espanha) que Angola defende a necessidade urgente de criação de uma nova ordem financeira mundial, que responda, com justiça e eficácia, à crescente crise da dívida no continente africano.

Francisco da Cruz, que falava na mesa-redonda sobre “Realizar uma arquitectura da dívida soberana orientada para o desenvolvimento”, promovida pela Conferência da ONU sobre Financiamento para o Desenvolvimento, adiantou que a posição do país está em consonância com a Declaração Ministerial de Lomé sobre a dívida em África, adoptada em Maio do corrente ano.

“A sustentabilidade da dívida deve ser entendida, à luz das necessidades de desenvolvimento, dos choques exógenos sofridos e da responsabilidade partilhada no sistema financeiro internacional”, defendeu o embiaxador angolano, para quem a dívida soberana é um tema de vital importância para Angola, para o continente africano e o Sul Global.

Num contexto de vulnerabilidades múltiplas, incluindo crises sanitárias, climáticas e geopolíticas, o representante permanente de Angola nas Nações Unidas destacou que se torna essencial construir uma arquitectura da dívida soberana justa, inclusiva, previsível e orientada para o desenvolvimento.

Francisco da Cruz disse ser com base nesta visão que Angola acolhe os quatro pilares do “Compromisso de Sevilha”, documento a ser adoptado, esta quinta-feira, último dia da quarta Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento.

Os quatro pontos acolhidos pelo país estão relacionados com a prevenção de crises, através da boa gestão e transparência, o alívio do custo de financiamento, mecanismos de reestruturação mais justos e céleres, e avaliações de sustentabilidade mais objectivas e orientadas para o longo prazo.

Por outro lado, o diplomata angolano salientou as acções em curso, em Angola, para a redução da dívida, informando que o país tem levado a cabo, no âmbito do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2023–2027, acções viradas para a governação da dívida, através de reformas institucionais.

As acções, adiantou, envolvem a divulgação pública regular e transparente dos dados da dívida, a articulação entre a política fiscal, monetária e de investimento social, e, de forma inovadora, tem estado a investir na digitalização dos sistemas de gestão da dívida pública.

Sublinhou que o objectivo é o reforço da rastreabilidade, a melhoria do planeamento orçamental e o alinhamento da política fiscal com os princípios de responsabilidade inter-geracional.

“Tal como sublinhado em Lomé, é imperativo reformar o quadro comum do G20, tornando-o mais transparente, inclusivo e eficaz, assim como garantir a representação equitativa de África na governação financeira global”, salientou.

Para Francisco da Cruz, é, igualmente, importante que se assegure o financiamento concessional e contracíclico, para libertar o espaço fiscal ao serviço do desenvolvimento sustentável.

Nesta conformidade, destacou que Angola apoia, também, a utilização de instrumentos inovadores, como cláusulas de suspensão do pagamento da dívida, em caso de choques ligados ao clima e a sustentabilidade.

Saudou as deliberações acordadas no "Compromisso de Sevilha", incluindo o reforço da análise multilateral da sustentabilidade da dívida, a promoção de cláusulas contracíclicas e indexadas a desastres, a chamada para revisão do Quadro Comum e o compromisso com abordagens mais coordenadas e inclusivas, entre todos os credores, oficiais, multilaterais e privados.

O não refinanciamento internacional e o peso da dívida dos países em desenvolvimento perfilam-se entre os principais entraves para a aceleração dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, enfatizou o diplomata angolano, citado pelo JA Online.

Em 2024, por exemplo, o montante global da dívida nos países em desenvolvimento estava orçado em cerca de 31 biliões de dólares, situação apontada como um dos motivos que está a impedir os mesmos países de acelerarem os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tendo em conta o peso da dívida em muitos programas.

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