João Lourenço defende necessidade de renovado compromisso entre UA e UE


Luanda – O Presidente da República, João Lourenço, defendeu, esta quarta-feira, em Bruxelas (Bélgica), que a parceria entre a União Africana e a União Europeia no quadro do Global Gateway tem um imenso potencial e representa um instrumento fundamental para transformar oportunidades em resultados concretos, na base de confiança mútua e visão estratégica.
Ao discursar, na qualidade de Presidente em exercício da União Africana, na segunda edição do Fórum Global Gateway, João Lourenço afirmou que cabe as duas organizações continentais agir conjuntamente, no sentido de aperfeiçoar os modelos de cooperação, consolidar mecanismos de solidariedade e aprofundar laços entre povos, economias e instituições, no âmbito da visão partilhada para 2030, assentes no respeito, equidade, sustentabilidade e unidade.
Sublinhou que a realização do fórum é uma renovada oportunidade para se abordar questões que promovam a construção de pontes, num mundo de inter-dependência, em que a conectividade não se limita a infra-estruturas físicas, mas também a segurança energética e alimentar, transição digital, integração económica, inclusão social e resiliência climática.
África, adiantou, traçou como meta a industrialização, visando desenvolver capacidades que podem impulsionar a transformação local dos recursos para criar empregos dignos para a juventude africana, agregar conteúdo tecnológico aos produtos e mitigar os fluxos migratórios para a Europa, devido a escassez de emprego e falta de perspectiva.
Salientou ser fundamental acrescentar mais-valias às matérias-primas de África, tornando-as mais competitivas nos mercados internacionais, resultando em mais recursos financeiros para se investir nas economias africanas, no quadro da Zona de Comércio Livre Continental e da construção de infra-estruturas para o desenvolvimento do cotinente.
Recordou que a União Africana realiza, em Luanda, no corrente mês, uma cimeira sobre o financiamento para o desenvolvimento das infra-estruturas em África, sob o lema “Capital, Corredores, Comércio: Investir em Infra-estruturas para a Zona de Comércio Livre Continental Africana e a Prosperidade Partilhada”.
Apelou a mobilização de sensibilidades, interesses e capital financeiro, por via dos mecanismos europeus de apoio ao desenvolvimento e pelos canais do sector privado e empresarial da Europa, exortando os participantes ao fórum a se associarem a África na execução de projectos de edificação de portos, caminhos-de-ferro, estradas, aeroportos, barragens hidro-eléctricas, parques de painéis fotovoltaicos e outras importantes infra-estruturas.
Deu a conhecer que, durante a conferência, serão apresentadas as prioridades de investimento no continente africano, no quadro do Programa para o Desenvolvimento de Infra-estruturas em África (PIDA).
Realçou o reforço da cooperação estratégica entre a União Europeia e a União Africana sobre projectos estruturantes, na sequência da terceira Reunião Ministerial das duas instituições, realizada em Maio do corrente ano, que destacou o impacto transformador de iniciativas comuns, como o Mercado Único Africano de Electricidade, o Plano Director dos Sistemas de Energia Continental, a Estratégia Africana de Eficiência Energética, o Mecanismo de Mitigação de Risco Geotérmico e o PIDA.
A título de exemplo, citou o projecto do Corredor do Lobito, com potencial de desenvolvimento económico e social para Angola e região da África Austral, pelas facilidades de transportação de bens e pessoas a preços competitivos, permitindo a ligação e encurtando distâncias entre o Atlântico e o Índico.
Disse que o Corredor do Lobito tem ainda uma importância geopolítica e económica, por ser uma plataforma logística que vai encurtar rotas marítimas internacionais, favorecer o comércio internacional e as trocas comerciais entre a Ásia, África, Europa e América, assim como dinamizar o comércio intra-africano, fortalecer a Zona de Comércio Livre Continental Africana e contribuir para integrar o continente nas cadeias globais de valor.
Reconheceu que, entre as açcões de cooperação entre a União Africana e a União Europeia, merece destaque o sector da saúde, que ocupa uma posição central nas preocupações de África, dada a necessidade urgente da produção local de vacinas e medicamentos.
O Presidente João Lourenço salientou que outro sector importante de cooperação é o da educação, por ter como alvo a juventude, faixa etária que representa 60 por cento da população africana abaixo dos 25 anos de idade.
Reiterou que o continente já não se contenta em ser apenas uma plataforma de produção e exportação de matérias-primas em bruto, querendo posicionar-se como parceiro activo na construção de uma economia global dinâmica, resiliente e com reflexos na prosperidade da população mundial.
Defendeu a criação de um quadro de parcerias que inclua o financiamento adaptado ao risco, a transferência tecnológica condicionada aos programas de formação, o apoio à criação de indústrias locais, que promovam e levem a um multilateralismo inclusivo, eficaz e representativo.
A concluir, manifestou a convicção de que o Fórum Global Gateway, ao consolidar-se como um encontro anual, aberto e inclusivo, onde governos, instituições financeiras, sociedade civil e sector privado possam debater estratégias, alinhar investimentos e acelerar a execução de iniciativas transformadoras, se torne uma plataforma em que fica demonstrado que o multilateralismo, quando é abrangente e eficaz, oferece respostas concretas aos desafios actuais.