CESSAR-FOGO

Veto dos EUA a resolução sobre Gaza causa indignação no Conselho de Segurança

 Manifestantes protestam em apoio aos palestinos, antes de uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas -  AFP
Manifestantes protestam em apoio aos palestinos, antes de uma reunião do Conselho de Segurança das Nações UnidasImagem: AFP

05/06/2025 10h13

Nova Yorque - Os Estados Unidos causaram indignação, esta quarta-feira, entre os demais membros do Conselho de Segurança da ONU, após vetarem um pedido de cessar-fogo imediato e acesso humanitário à Faixa de Gaza.

O projecto de resolução recebeu 14 votos a favor e apenas um contra dos Estados Unidos, um dos cinco membros permanentes com poder de veto, sendo este o primeiro veto da administração de Donald Trump.

Este veto "envia a perigosíssima mensagem de que as vidas de dois milhões de palestinos não importam", disse o embaixador paquistanês, Asim Iftikhar Ahmad, que considerou que tal atitude dá "luz verde para o extermínio" da população de Gaza e constitui uma "mancha moral na consciência" do Conselho.

"O silêncio não pode defender os mortos, não pode amparar as mãos dos que morrem, não pode enfrentar o funcionamento da injustiça", acrescentou o embaixador da Argélia, Amar Bendjama, citado pela AFP.

"No momento em que a humanidade está sendo colocada à prova em tempo real, a partir de Gaza, este projecto de resolução nasce de nosso senso compartilhado de responsabilidade. Responsabilidade com os civis de Gaza" e os reféns, e "responsabilidade com a história", declarou, por sua vez, o embaixador da Eslovênia, Samuel Zbogar. 

Por seu lado, a França e o Reino Unido, outros dois membros permanentes com direito de veto, expressaram o seu pesar pelo resultado da votação, enquanto o embaixador da China, Fu Cong, criticou directamente os Estados Unidos, pedindo que "abandone os cálculos políticos e adopte uma postura justa e responsável".

Silencioso sobre o caso há um ano, o Conselho não consegue se unir para falar a uma só voz, desde o início da guerra de Israel contra o movimento Hamas, em Gaza, tendo sido bloqueado em várias ocasiões, por vetos dos Estados Unidos, da Rússia e da China.

A última tentativa de romper o silêncio foi em Novembro de 2024, sob a administração do democrata Joe Biden, que bloqueou um texto que pedia um cessar-fogo em Gaza.

Para os Estados Unidos, o texto votado era "inaceitável pelo que diz e inaceitável pelo que omite", explicou a embaixadora interina dos EUA na ONU, Dorothy Shea, antes da votação.

O projecto rejeitado "minaria os esforços diplomáticos para alcançar um cessar-fogo que reflicta a realidade no terreno e encorajaria o Hamas", acrescentou, insistindo no direito de Israel de "se defender".

O projecto de resolução "exigia um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente" e a libertação incondicional dos reféns em poder do Hamas, capturados no ataque de 07 de outubro de 2023 contra Israel, que desencadeou a guerra em Gaza.

Também pedia o "levantamento imediato e incondicional de todas as restrições, à entrada de ajuda humanitária em Gaza e sua distribuição segura e sem obstáculos em larga escala" pelas Nações Unidas.

Após mais de dois meses e meio de bloqueio, Israel começou a permitir, desde 19 de Maio último, a entrada em Gaza de um número limitado de camiões da ONU, volume que, para a organização, é apenas uma "gota no oceano" diante das enormes necessidades da população do território palestino.

Ao mesmo tempo, a Fundação Humanitária de Gaza, uma organização com financiamento opaco apoiada por Israel e Estados Unidos, estabeleceu centros de distribuição de ajuda que a ONU denunciou como contrários aos princípios humanitários.

Nos últimos dias, dezenas de pessoas morreram nas proximidades de tais centros, classificados pela ONU como "armadilhas mortais", pois palestinos famintos são forçados a caminhar "entre cercas de arame", cercados por guardas privados armados.

Diante da paralisia do Conselho de Segurança, o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, pediu uma reacção da comunidade internacional. "Todos os países têm a obrigação de agir. Agir agora, agir com firmeza, agir para pôr fim à impunidade, agir para pôr fim às atrocidades. Pela humanidade, façam algo!", suplicou ao anunciar que irá recorrer à Assembleia Geral para uma nova votação.

O Hamas considerou o veto americano "escandaloso" e disse que ele reflecte uma "alienação total" e "um apoio político directo" às acções de Israel na Faixa de Gaza.

"Não percam mais tempo", respondeu o embaixador israelita, Danny Danon, que atacou o projecto de resolução por "minar" os esforços humanitários. "Nenhuma resolução, nenhuma votação se interporá em nosso caminho" para trazer de volta todos os reféns, insistiu.

Israel enfrenta uma crescente pressão internacional para pôr fim à guerra em Gaza, que já causou mais de 54 mil mortos, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.

Manifestantes protestaram em apoio aos palestinos, antes da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas que votou a resolução pedindo um cessar-fogo e acesso humanitário irrestrito em Gaza, em frente à sede da ONU, em Nova Yorque.

Esta foi a primeira votação do Conselho de Segurança sobre o assunto, desde Novembro de 2024, quando os Estados Unidos bloquearam um texto que pedia o fim dos combates. 

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