General francês afirma que a Europa deve preparar-se para guerra


Paris - O chefe do Estado-Maior do Exército francês, Pierre Schill, alertou esta quarta-feira para o aumento das ameaças sobre o continente europeu e sublinhou a necessidade de França estar pronta para um eventual conflito.
Em entrevista à ‘RTL’, o general afirmou que “o futuro não está escrito”, mas insistiu que o país deve “estar preparado para entrar em guerra”.
Segundo o jornal ‘Le Monde’, o alerta de Schill foi reforçado horas depois pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Fabien Mandon, que defendeu que o exército francês deve “estar pronto para um confronto dentro de três ou quatro anos” com a Rússia.
“Temos de estar prontos a partir desta noite”
Pierre Schill, que acaba de publicar o livro ‘Le sens du commandement’ (O sentido do comando, em tradução livre), descreveu um cenário em rápida mutação, no qual “as ameaças aumentam, tornam-se mais urgentes e mais radicais”. O general sublinhou que “um equívoco pode acontecer e uma espiral pode instalar-se”, frisando que “não é inevitável”, mas que é essencial “ponderar de forma a evitar essa espiral”.
“A partir desta noite, o exército francês está pronto para defender o nosso país e o nosso continente”, afirmou Pierre Schill, acrescentando que “estamos num mundo em que o recurso à força volta a ser algo que pode parecer normal para certas grandes potências”.
De acordo com o ‘Le Monde’, Schill defendeu que a Europa deve assumir o controlo do seu destino: “É o regresso dos impérios. Perante um império, ou somos vassalos ou somos inimigos. A Europa deve tomar o seu destino nas mãos. Para ser livre, é preciso ser temido. E para ser temido, é preciso ser forte.”
A ameaça russa e o “esforço de rearmamento”
Questionado sobre quais as ameaças mais preocupantes para o continente, o general considerou que “a ameaça russa na Europa é a maior”, sem ignorar riscos noutras frentes. “Também estamos ligados a outros Estados por acordos de defesa que podem enfrentar a ameaça iraniana, por exemplo.
O mundo continua muito instável, como tem estado nas últimas três décadas”, disse, citando ainda “as incursões de drones e os sobrevoos de caças russos” registados nas últimas semanas.
No mesmo dia, perante os deputados da Comissão de Defesa, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Fabien Mandon, destacou a urgência do “esforço de rearmamento” francês, justificando o aumento do investimento militar com a necessidade de reforçar a dissuasão perante Moscovo.
“O primeiro objetivo que dei às Forças Armadas é estarem preparadas para um conflito dentro de três ou quatro anos, que pode começar com formas híbridas, mas evoluir para algo mais violento”, afirmou.
Segundo o Le Monde, Mandon lembrou que a Rússia “há vários anos é um actor muito agressivo no nosso espaço informativo, multiplica os ciberataques, lançou uma guerra de agressão na Ucrânia, utiliza a ameaça nuclear e provoca em espaços aéreos europeus”.
Com estas declarações, os dois principais responsáveis militares franceses reforçam a mensagem de alerta à Europa: o continente deve acelerar a preparação para uma possível guerra num horizonte próximo — e fazê-lo enquanto ainda há tempo para evitar que a ameaça se concretize.