Países muçulmanos defendem a soberania do território palestiniano
Ancara - Os sete países muçulmanos reunidos na Turquia para discutir o futuro de Gaza insistiram hoje numa governação exclusivamente palestiniana, recusando a imposição de um "novo sistema de tutela" no território, após duas semanas de cessar-fogo.
"Os palestinianos devem governar os palestinianos e os palestinianos devem garantir a sua própria segurança", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, em declarações à imprensa no final de uma reunião com os seus homólogos da Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Paquistão e Indonésia.
O Egipto, um dos países que tem participado activamente nas negociações e na mediação do fim das hostilidades, não se fez representar na reunião.
"Gaza precisa de ser reconstruída e a sua população precisa de regressar a casa. Precisa de sarar as suas feridas. Mas (...) ninguém quer ver surgir um novo sistema de tutela", insistiu Fidan.
"Qualquer medida tomada para resolver a questão palestiniana (...) não deve correr o risco de criar a base para novos problemas. Estamos muito atentos a isso", insistiu, esperando uma rápida "reconciliação inter-palestiniana" entre o Hamas e a Autoridade Palestiniana.
Esta reconciliação permitiria "reforçar a representação da Palestina na comunidade internacional", acrescentou o chefe da diplomacia turca.
Os ministros dos sete países, todos membros da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), foram recebidos pelo Presidente norte-americano Donald Trump no final de Setembro, em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU, antes da apresentação do plano de paz norte-americano, seis dias depois.
Já o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, criticou a atitude "muito medíocre" de Israel desde a entrada em vigor do cessar-fogo, em 10 de Outubro, e disse que "o Hamas parece determinado" a respeitar o acordo.
"Todos vimos o historial de Israel nesta matéria. É extremamente mau", disse o chefe de Estado turco referindo-se ao Executivo de Benjamin Netanyahu.
"Temos de levar mais ajuda humanitária à população de Gaza e, em seguida, iniciar os esforços de reconstrução", prosseguiu, apelando à Liga Árabe e à OCI para que desempenhem "um papel de liderança" nesta matéria.
Antes da reunião com os seus homólogos, Fidan recebeu no sábado uma delegação do gabinete político do Hamas, chefiada por Khalil al-Hayya, o principal negociador do movimento islamita palestiniano.
Fidan sugeriu que a criação de uma força internacional de estabilização em Gaza, na qual a Turquia gostaria de fazer parte.
"Primeiro, temos de chegar a um consenso sobre o projecto. Depois, terá de ser aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU, sem estar sujeito a qualquer veto por parte dos membros permanentes", sublinhou, sem mencionar os Estados Unidos.
Mas os esforços de Ancara, que intensifica os contactos diplomáticos com os países da região e procura influenciar a posição pró-israelita dos Estados Unidos, são vistos com desconfiança por Israel, que considera Ancara demasiado próxima do Hamas.
Os dirigentes israelitas têm manifestado repetidamente a sua recusa em ver a Turquia participar na força internacional de estabilização em Gaza.
De acordo com o plano de Trump, no qual se baseia o acordo de cessar-fogo, esta força de estabilização, composta maioritariamente por tropas de países árabes e muçulmanos, deverá ser colocada em Gaza à medida que o exército israelita se retira.
No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, avisou que só os países considerados imparciais poderão integrar a força.
Outro sinal da desconfiança do governo israelita é o facto de uma equipa de socorristas turcos, enviada para ajudar na busca de corpos, incluindo corpos de israelitas, nas ruínas de Gaza, estar ainda à espera, desde o final da semana passada, da luz verde israelita para entrar no território palestiniano, segundo Ancara.