DIPLOMACIA
Presidente João Lourenço defende maior coordenação na promoção da língua portuguesa

26/07/2025 12h13
Luanda - O Chefe de Estado angolano, João Lourenço, defendeu, esta sexta-feira, em Lisboa (Portugal), a necessidade de uma maior coordenação de esforços entre os Estados-membros da CPLP e mais vigor na acção comum para que a Língua Portuguesa seja oficialmente aceite como ferramenta de trabalho nas Nações Unidas e de outras importantes organizações internacionais.
João Lourenço discursava num jantar oficial, que lhe foi oferecido pelo Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no quadro da sua visita oficial de dois dias àquele país.
Ao se referir aos temas que mereceram atenção, no seu encontro com Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República disse que, no âmbito da CPLP, estar a ser desenvolvida uma ampla colaboração para definir posicionamentos convergentes sobre matérias importantes ligadas a mobilidade no espaço da comunidade, cooperação económica e promoção da Língua Portuguesa.
“Esta nossa organização, que abarca Estados-membros de quatro continentes falando a mesma língua e com uma forte identidade e intercâmbio cultural, prima pelo respeito dos direitos e deveres de cada Estado-membro, incluindo o da presidência da Organização na base do princípio da rotatividade, até que todos tenham beneficiado desse mesmo direito”, afirmou.
O Chefe de Estado angolano disse estar satisfeito com os resultados positivos do balanço feito sobre a cooperação entre Angola e Portugal, por dar indicações de que há um contínuo crescimento de realizações concretas que concorrem, de forma significativa, para o desenvolvimento das economias de ambos os países.
O estadista angolano disse acreditar que, "apesar da grande densidade do intercâmbio existente entre os nossos países, há ainda um vasto campo de oportunidades que temos de continuar a identificar e explorar, colocando ênfase no investimento no sector industrial, na transferência de tecnologias, na exploração e processamento de minérios, na agropecuária, no turismo, na investigação científica e noutros”.
Falou das incertezas quanto ao futuro do Planeta, por fazerem parte do quotidiano dos países, quer em termos de protecção do ambiente, quer no da segurança alimentar e energética e da paz e segurança global.
O Presidente da República recordou que, desde o Acordo do clima de Paris, se tem vindo a procurar implementar as suas conclusões e decisões, sem que se tenham alcançado, até aqui, os resultados expectáveis, mesmo reconhecendo que há da parte dos governos uma evidente vontade política, que não basta para se alcançarem os objectivos também definidos em conferências posteriores.
“Acreditamos que a COP30, a ter lugar no Brasil em Novembro do corrente ano, venha a representar um marco na mudança e na evolução das atitudes a respeito da questão sensível do clima”, vaticinou.
A situação convulsiva que o mundo vive, actualmente, também mereceu destaque na intervenção do Chefe de Estado no jantar em sua honra, sobretudo pelos danos que provocam no continente africano, Médio Oriente e Europa, onde referiu que o cenário que aí se vive dá sinais preocupantes de um recrudescimento da guerra, devendo, por isso, levar o mundo a reflectir profundamente sobre a forma como a comunidade internacional está a agir.
“Não se pode aceitar que algumas potências mundiais, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, estejam a desrespeitar e mesmo a retirar a autoridade da instituição internacional de que são parte, agindo por vezes com dois pesos e duas medidas consoante as conveniências e não de acordo com os valores e princípios definidos pela Organização e, portanto, internacionalmente aceites”, ressaltou o estadista angolano.
Diferente do que se verificou em relação à posição de firmeza demonstrada no caso do genocídio nos balcãs, mais concretamente no Kossovo, em defesa da vida e da dignidade da pessoa humana, o Presidente João Lourenço disse não se ter visto a mesma atitude em relação ao genocídio que está a acontecer na Faixa de Gaza e na Cisjordânia contra o povo palestino.
Disse que este gesto passa a ideia de que as crianças, mulheres, velhos e doentes, mortos todos os dias às dezenas pelas bombas de aviação, da artilharia e também pela fome e sede impostas, não fazemparte “desta grande família de seres humanos que habitam o nosso Planeta”.
O Chefe de Estado angolano chamou atenção para a necessidade de o mundo não esquecer que o que se verifica na Síria, neste momento, pode estar a configurar um quadro relativamente recente idêntico ao da Líbia, que se transformou, com a ausência de um poder central forte, numa plataforma de desestabilização de toda uma vasta região de África, com efeitos também noutras geografias.
“No caso da Síria, é urgente que se encontre uma solução que salvaguarde a vida das populações indefesas e se evite a propagação do conflito para toda a região, com consequências que iriam agravar ainda mais a já dramática situação que reina no Médio Oriente”, exortou o estadista angolano.
Quanto ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, João Lourenço disse ter a esperança de que os dois países compreenderão, em algum momento, que a guerra que os opõe não será seguramente resolvida pela via militar, sendo que devem buscar pontos de convergência, por mais pequenos que sejam, para que a partir daí iniciem um diálogo consistente que leve ao fim da violência entre ambos.
“Em África, onde assumo, actualmente, as funções de Presidente em exercício da União Africana, há um grande esforço para que se busquem soluções para os problemas de insegurança e de instabilidade que assolam vários pontos do continente, no qual, passo a passo, temos conseguido construir um quadro negocial em que se inscreve a resolução do conflito na República Centro-Africana e se abrem boas perspectivas para o fim do conflito no Leste da República Democrática do Congo”, adiantou o Chefe de Estado.
Visita à Assembleia da República Portuguesa
Antes do jantar oficial em sua honra, o Presidente da República efectuou uma visita de cortesia à Assembleia da República Portuguesa, onde foi recebido, na parte de fora, por uma avalanche de cidadãos nacionais residentes aqui em Lisboa, que o foram saudar.