João Lourenço solicita maior envolvimento do Japão na industrialização e no investimento em África


Luanda - O Presidente da República e em exercício da União Africana, solicitou, esta quarta-feira, em Yokohama, um maior aposta do Japão na industrialização e no investimento em África e seu envolvimento na implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana.
Ao discursar na abertura da Feira de Negócios promovida no quadro da nona edição da Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento de África (TICAD), João Lourenço sublinhou que a visão africana para o desenvolvimento está plasmada na sua Agenda 2063, que prevê um esforço conjunto, ao longo das próximas décadas, assente em parcerias estratégicas com grandes actores internacionais, entre os quais o Japão.
A Exposição de Negócios organizada pela Entidade do Comércio Externo do Japão (JETRO), à margem da TICAD 2025, que se vai estender até sexta-feira, com representação de 40 países africanos e cerca de 150 empresas japonesas, que exibem as suas valências.
Realçou que a zona de livre comércio oferece um vasto campo de oportunidades, com ilimitadas perspectivas de negócios, em que o Japão pode desempenhar um papel fundamental, tendo salientado a importância da cooperação japonesa em projectos ligados à transição energética, transformação digital, formação de capital humano, industrialização e agregação de valor às economias africanas.
Convidou os investidores japoneses a se associarem ao Corredor do Lobito, uma iniciativa do Governo angolano, que vai revolucionar o transporte e o comércio internacional, reduzindo tempo e custos nas ligações entre a Ásia, África, Europa e América.
João Lourenço reconheceu que as conferências da TICAD têm sido, desde a sua criação, em 1993, uma importante plataforma de diálogo entre África e o Japão, onde se abordam as principais preocupações do continente africano e se avaliam as disponibilidades e possibilidades do Japão colocar a favor do desenvolvimento de África os seus recursos e capacidade técnica.
O Presidente em exercício da União Africana recordou que, durante a TICAD 8, realizada em 2022, o Japão anunciou um pacote de 30 mil milhões de dólares em financiamento público-privado para África.
Sublinhou a aposta do Japão, particularmente em domínios como a segurança alimentar, relativamente à qual tem manifestado um firme engajamento e que, juntamente com outras acções, contribui solidamente para a construção de uma confiança cada vez maior entre as partes, como parceiros movidos por interesses comuns bastante expressivos.
Lamentou, entretanto, que, em 2024, África tenha recebido apenas 0,5 por cento de investimento directo estrangeiro japonês, de um total global de 75 por cento que o continente beneficiou.
“Este valor não reflecte a real capacidade do Japão neste domínio, nem as potencialidades africanas para absorver capitais e transformá-los em resultados lucrativos”, enfatizou, recordando que 60 por cento das empresas japonesas instaladas em África registaram sucesso e expansão das suas operações.
João Lourenço considerou “imperativo intensificar o diálogo”, utilizando as experiências positivas das empresas japonesas presentes em África, indicando sectores como minerais, energia, indústria naval e automóvel, comboios e veículos eléctricos e agricultura, como áreas prioritárias para o crescimento mútuo.
O Presidente angolano encorajou ainda o Japão a abandonar uma visão meramente extractiva dos recursos, na relação com África, passando a investir no processamento local das matérias-primas, permitindo acelerar a industrialização do continente e gerar mais valor económico para ambos os lados.
Sobre a feira, considerou a mesma um espaço ideal para se falar de negócios, entre o continente africano e o Japão, numa perspectiva de se procurar gerar dinâmicas que impulsionem as trocas comerciais, os investimentos do Japão em África e os dos países africanos no Japão.
A Feira de Negócios da TICAD é uma plataforma de aproximação entre empresários africanos e japoneses, que visa impulsionar parcerias estratégicas em sectores como energia, agricultura, indústria transformadora e economia digital.
O Presidente da República, João Lourenço, anunciou, esta quarta-feira, a assinatura de novos memorandos com a Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA) e com a Toyota, no quadro do reforço da diversificação da economia angolana.
Ao falar na Feira de Negócios da TICAD9, sublinhou que estes entendimentos, a serem rubricados durante a sua estada no Japão, vão se juntar às parcerias já em curso entre os dois países, particularmente nos sectores das infra-estruturas e da indústria.
Entre os projectos em destaque, referiu a construção de linhas de transmissão e sistemas de sub-estações no Sul do país, bem como o Porto de Moçâmedes, considerado estratégico para o desenvolvimento logístico e comercial.
João Lourenço destacou que a cooperação com o Japão é fundamental para consolidar os esforços de Angola no processo de modernização e crescimento sustentável da sua economia.
A cooperação bilateral entre o Japão e Angola iniciou, em 1988, através de um programa de ajuda de emergência, via Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Desde Fevereiro de 2003, o Japão passou a prestar assistência a Angola em áreas como desminagem, reinserção social de ex-soldados e reintegração de refugiados.
No período pós-conflito e no quadro da reconstrução nacional, a cooperação japonesa estendeu-se a múltiplos domínios, através de programas bilaterais e do envolvimento de organizações internacionais.
Entre as principais acções destacam-se a ajuda alimentar, apoio à agricultura e ao combate à pobreza, repatriamento de refugiados, abastecimento de água, construção de escolas primárias, melhoria das comunicações e a reabilitação de portos, sempre com foco na recuperação das infra-estruturas básicas destruídas pela guerra civil.
Mais recentemente, no âmbito da cooperação económica, têm sido aproveitados os conhecimentos e experiências do Japão em áreas como o desenvolvimento do cultivo de arroz e a formação profissional, sectores considerados estratégicos para a diversificação e modernização da economia nacional.