HOMENAGEM
João Lourenço considera homenagem o despertar de um futuro com mais saúde

23/08/2025 12h03
Luanda - O Governo japonês distinguiu, sexta-feira, em Tóquio, os cientistas maliano Abdoulaye Djimdé e Chileno-francês Luís Pizarro, afectos à entidade suíça “Medicamentos para Doenças Negligenciadas”, pelo trabalho desenvolvido para o combate à malária e o desenvolvimento de medicamentos e tratamento de doenças negligenciadas em África.
Segundo o JA Online, a outorga dos galardões da 5.ª edição do Prémio Hideyo Noguchi aconteceu na presença do Imperador do Japão Naruhito, da Imperatriz Masako e do Presidente da União Africana, João Lourenço, acompanhado da Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço.
O Prémio, instituído pelo Governo japonês, é uma homenagem ao cientista Hideyo Noguchi, que dedicou a sua vida à batalha contra doenças infecciosas em África e desbravou os caminhos da investigação bacteriológica.
Na ocasião, o Presidente da União Africana, João Lourenço, disse que o reconhecimento aos laureados desperta a esperança num futuro seguro e com mais saúde, graças ao seu sacrifício e à incansável dedicação à ciência, que resulta, naturalmente, na protecção da espécie humana.
O Chefe de Estado, que rendeu especial tributo aos homenageados, sublinhou que a distinção reverencia o cientista japonês Hideyo Noguchi, legando ao mundo uma obra vasta nesta matéria, que teria sido talvez mais ampla se não tivesse enfrentado o infortúnio de sucumbir às consequências graves da febre amarela, que contraiu enquanto realizava trabalhos de investigação em África.
João Lourenço disse que o acto remete para preocupações sérias com que África se debate, onde, nos últimos anos, e “muito particularmente neste de 2025, tivemos que fazer face aos surtos epidemiológicos da cólera, que tiveram uma incidência dramática na vida socioeconómica das populações africanas, muito especialmente em regiões e países em que esta epidemia se manifestou com maior abrangência”.
O presidente da União Africana assegurou haver um grande esforço para se controlar a repetição cíclica destes surtos, um desafio que implica o recurso a medidas de saneamento básico, de purificação da água e de melhoria das condições gerais de higiene das populações.
“Temos consciência da necessidade urgente de levarmos a cabo as acções que referi e outras, sublinhando aqui a consciencialização das nossas populações sobre como devem lidar com o ambiente que os rodeia, mas, em muitos casos, a realização de tais propósitos fica muito aquém dos objectivos delineados por condicionalismos de ordem financeira e dos que se prendem com a insuficiência de pessoal tecnicamente capacitado para dar respostas rápidas e eficientes à situação”, frisou.
Na sequência, e olhando para os desafios mencionados, reforçou: “Mesmo assim, não estamos única e passivamente à espera que nos acudam do exterior, sendo com este espírito que os cientistas e profissionais de saúde africanos começaram a trabalhar e colocaram todo o seu empenho em desenvolver acções que nos levem a eliminar a cólera até 2030, no âmbito de uma coordenação que se tem revelado cada vez mais eficaz com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, a África CDC”.
Extinção da malária exige comprometimento político
Ao usar da palavra, o médico maliano Abdoulaye Djimdé disse que o sucesso no combate à malária exige um comprometimento político continuado, assim como financeiro e maior envolvimento dos cientistas africanos na investigação da doença.
No processo de pesquisa e investigação há 30 anos, Djimdé alertou que os avanços alcançados, até agora, estão ameaçados por vários factores, entre os quais as alterações climáticas, resistência aos medicamentos, pandemias, conflitos armados e redução de financiamentos.
Apesar dos avanços, referiu que o continente africano, principalmente a Região Subsaariana, continua a debater-se com a questão da malária, que aniquila vidas desnecessariamente.
Abdoulaye Djimdé afirmou que é possível eliminar a doença, até mesmo nas zonas mais difíceis.
Em reacção ao Prémio e ao seu reconhecimento, considerou um estímulo para prosseguir determinado com os trabalhos, além de formar mais jovens cientistas africanos em matéria de investigação biomédica de ponta, ampliando as redes de colaboração a vários níveis, para um continente livre da malária.
Por sua vez, Luís Pizarro, director executivo da iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, desde Setembro de 2022, lembrou que as doenças negligenciadas, “vulgo doença dos pobres”, afectam mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo, e forçam crianças a abandonar a escola.
O cientista incluiu o sucesso da investigação reconhecida ontem como um trabalho de equipa, que conta com o apoio de governos, doadores, indústrias farmacêuticas e universitários.
“O sucesso é o poder da Ciência e também da solidariedade internacional “, reconheceu.